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Max: herói e vilão.

Joseph Bell, ex goleiro da seleção de Camarões, disse uma vez que todo gol é erro do goleiro e, mesmo que ele não concorde, alguém concordará. Desta culpa e consciência pesada quase que automática, Max entendia. Um jogador que não marcou geração no maior clube em que defendeu, mas saiu para virar ídolo em outro. Passou a ser tatuado por falhas e a conviver com mãos apontadas para a cada jogo. Mas foi em Goiânia que as mãos se viraram para agarrar junto a ele. “Único jogador que tenho como ídolo. Indescritível o que ele fez e o que ele é. Eterno Max”, despede-se Felipe Marçal, torcedor do Vila Nova.

Maxlei dos Santos Luzia, o Max, foi revelado pelo Portuguesa da Ilha, clube do Rio de Janeiro. Passou pelo Bangu e Friburguense até chegar ao América-RJ em 2001. No time americano destacou-se em grande partida contra um time da Zona Sul do Rio de Janeiro. Na rodada final do Rio-São Paulo, em 2002, entrou contra o Botafogo, que precisava da vitória para se classificar. Max fechou o gol durante toda a primeira etapa do jogo e, aos 47 do segundo tempo, Gil Bala marcou e garantiu a vitória do mecão. Quase como uma vingança, no mesmo ano, foi contratado pelo time da estrela solitária.

No clube de General Severiano, começou como reserva de Carlos Germano, em 2002. Para a campanha do rebaixamento, em 2003, conquistou a titularidade. Viveu seu grande momento ali, quando seu clube experimentava pela primeira vez o gosto amargo da Série B. Permanecer em um clube durante um rebaixamento e lutar pelo seu renascimento é estender a mão para quem te estendeu primeiro. Max estendeu como quem se esticava para pular e defender no ângulo. 

Na temporada seguinte foi reserva de Jefferson, atual goleiro e ídolo do clube. “Amigo, grande goleiro e profissional”, descreveu Jefferson em uma rede social. “Obrigada por tudo que fez pelo nosso Botafogo”.

Voltou à titularidade em 2005, com a transferência de Jefferson para o futebol turco. Na temporada de 2006 foi campeão pelo clube em cima do Madureira. Primeiro título que, aqueles que nasceram depois da conquista de 95, viveram. Talvez, por isso, Max tenha um lugar especial perto de cada um desses: é um dos primeiros goleiros em suas memórias.

2007: o ano do quase

Ano do quase. Assim ficou conhecido aquela inesquecível e inacreditável temporada para os botafoguenses que, se pudessem, a apagariam. Um quase campeonato Carioca, uma quase Copa do Brasil e um quase Campeonato Brasileiro – disputou a liderança da 4ª a 18ª rodada. Ao fim da 38ª, não estava nem na zona de classificação para a Copa Libertadores da América. Como seu clube, Max foi do branco ao preto e viu as lembranças de seus jogos dividirem espaço com as falhas bisonhas: uma partida desastrosa contra o Boavista, que terminou na eliminação do time alvinegro da Taça Guanabara; um rebote nos pés de Souza, jogador do Flamengo no primeiro jogo da final do Carioca; um frango em um pênalti contra o Náutico pela Copa do Brasil. Criticado, Cuca optou por Max como titular na segunda partida da final, numa forma de dar a glória que ele e seu time precisavam. "O Max é experiente, já fez muito pelo clube e é bem visto aqui", defendeu-o.

Da maneira que nada naquele ano foi simples, a partida foi para os pênaltis. Lá estava ele. Rapidamente, as mãos que o apontaram no primeiro jogo voltaram para agarrar junto a ele. Não foi suficiente. Max fez uma ótima partida, mas não conseguiu evitar a vitória do Flamengo nos pênaltis. No resto da temporada, foi um dos cinco goleiros que revezaram no time do técnico Cuca. Em 2008, o Botafogo renovou seu contrato, mas não durou muito e foi emprestado ao Vila Nova, de Goiás, encerrando por ali a sua passagem no clube de General Severiano.

O ídolo do Tigrão

“É o Max! É o Max! É o Max!”, ecoava a torcida do Vila Nova cada vez que o goleiro entrava em campo. Virou ídolo no time de Goiás durante uma das melhores campanhas da equipe na Série B do Campeonato Brasileiro. Por ser um campeonato pouco assistindo quando um dos 12 grandes clubes brasileiros não estão jogando, poucos souberam das atuações de Max, mas a torcida do Vila Nova não esquecia. 

Das partidas memoráveis, fica o destaque na vitória por 3x2 contra o América-RN, ao defender um pênalti e, em seguida, o rebote. Também na vitória por 1x0 em cima do Avaí. "No segundo tempo, o placar se manteve favorável ao Vila Nova, graças ao goleiro Max.", contou o repórter Renato Sebba ao Globo Esporte na época. Contemporâneo do ex goleiro, Roni, ex-Fluminense e Flamengo, o descreve como um irmão. "Para mim, foi como perder um irmão. Max foi um dos poucos amigos verdadeiros que fiz".